A pesquisa como eixo de formação docente

ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR, Edwiges (orgs.). Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002.

A pesquisa é constituída como um processo de questionamento de uma dada realidade com base em fundamentos teóricos que vão se contrapor ou não aos dados levantados.  Em nossa sociedade, quando falamos de pesquisa logo relacionamos a esta o espaço acadêmico, “detentor” do saber científico. Na maioria dos casos são desprezados os saberes do dito senso comum e o campo da pesquisa fica voltado aos intelectuais acadêmicos detentores do conhecimento. Em contra-partida, na educação vemos surgir um movimento questionador e propositor desta realidade nos levando a repensar a ideia da universidade como único campo de construção do saber.

Diante da crise na educação brasileira e da complexidade do processo educacional, pouco vemos intervenções significativas que buscam compreender as mudanças e transformações existentes no interior das escolas. O que vemos são conhecimentos produzidos por pesquisadores acadêmicos e que são consumidos pelos professores da educação básica. Pois a estes profissionais não são dados pressupostos para o questionamento, investigação e sinalizações do seu cotidiano escolar.

A realidade nos moldes do sistema capitalista implica a difícil superação da dicotomia entre o fazer e o pensar, onde uns pensam e outros executam.  Assim, a educação segue os princípios capitalistas de uma busca incessante por novos métodos pedagógicos que mascare um sistema educacional excludente e que forma em sua maioria cidadãos analfabetos funcionais e iletrados.

Assim, a pesquisa associada ao aprofundamento teórico é relevante para a busca de respostas a questionamentos que se encontre em constante renovação. Devemos enfatizar a necessidade de um dialogo mútuo e contínuo entre o pesquisador-acadêmico e o professor-pesquisador que evidencia novas possibilidades de construção do conhecimento crítico acerca de uma determinada realidade.  

A formação do professor-pesquisador nos cursos de Pedagogia é dificultada pela grade curricular destes que priorizam as disciplinas teóricas, depois as metodologias e por fim o estágio que pressupõe a aplicação de todos os conteúdos estudados durante o curso. Por conta desta fragmentação os conhecimentos quando confrontados a realidade escolar não dão conta das exigências da prática cotidiana relacionada à imprevisibilidade e heterogeneidade do processo pedagógico e das relações humanas. O estágio é visto como treino para uma futura ação docente, sendo caracterizado pela ausência do diálogo entre teoria e pratica.

No momento em que a atividade de pesquisa é oportunizada em todo o currículo do curso de Pedagogia é dada ao professor a possibilidade do diálogo prática-teoria-prática, onde a prática irá sinalizar questionamentos que serão interpretados com base na teoria evidenciando alternativas para uma nova ressignificação dessa prática. No cotidiano escolar a pesquisa assumir importante papel para que os dilemas e desafios da educação sejam enfrentados a partir de questionamentos e reflexão.

Para tanto, é necessário que o professor assuma a função de pesquisador do cotidiano escolar, refletindo e teorizando sobre a dinâmica pedagógica, fomentando a construção coletiva de novos conhecimentos e alternativas que viabilize a transformação escolar.

Por que o estágio para quem não exerce o magistério: o aprender a profissão

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

Quando se chega ao estágio supervisionado são muitas as duvidas, incertas e insegurança dos alunos nunca exerceram o magistério. Neste momento faz-se necessária que questões relacionadas à profissão docente sejam discutidas entre comunidade acadêmica e comunidade escolar.

Com o aumento da carga horária obrigatória do estágio nos cursos de formação de professores, de 300 para 800 horas, este desvinculasse do projeto pedagógico do curso transformando-se em uma atividade instrumental. Ressalta-se ainda as precárias condições das instituições superiores e das unidades escolares para a realização da atividade docente, com o numero elevado de alunos nas turmas, dificuldades dos docentes na universidade que muitas vezes não são reconhecidos e as disciplinas de estágios que não são articuladas com as demais aparecendo somente no final no curso.

O projeto de estagio acaba por desenvolver atividades técnicas e burocráticas sem fundamentação e sem nexos com as atividades e finalidades do ato de ensinar. Estes deveriam se pensados com base no contexto escolar priorizando as dificuldades e problemas da própria instituição, onde o estagio fosse visto como um espaço de discussão, reflexão e aprendizagem.

O que se constata na pratica e a distancia entre reais condições da escola e o discutido e trabalhado nas universidades. Devendo as várias reformas educacionais e as precárias condições do trabalho do docente no cotidiano escolar os estagiários vão se deparar com professores desmotivados, insatisfeitos e descrédulos da educação.

É importante que o estagiário perceba os sujeitos da escola com base numa perspectiva histórico-cultural, compreendendo as especificidades de cada escola e das relações construídas e estabelecidas no interior dela. Assim no estágio o aprender da profissão docente requer a atenção as particularidades e interfases da realidade escolar em sua contextualização na sociedade. Ao mesmo tempo em que privilegia o aprendizado com as experiências dos professores da escola que se refere ao ato e desafio de ensinar.

Daí a importância e necessidade discursos de formação pensarem o estágio com um espaço de pesquisa e investigação da prática escolar e da ação docente. A troca de saberes e conhecimentos entre estagiários e escola podem propiciar reflexões criticas quanto do ambiente escolar e a própria formação docente a aprender.

A ação docente do estagiário e um conjunto das representações pessoais e profissionais adquiridas no seu processo formativo sendo influenciadas direto ou indiretamente pelos professores, pelo projeto pedagógico do curso, de seus valores entre outros fatores.

No que se refere às praticas pedagógicas no estágio, a pesquisa e um elemento fundamental para proporcionar novas possibilidades de ensinar a aprender a profissão docente. Nessa perspectiva até os professores formadores são convocados a reverem seus conceitos e concepções a partir das vivências de seus alunos nas atividades de estágio.

A ruptura com uma prática de estágio fundamentada em formas rígidas de inspeção e supervisão herdade da pedagogia tecnicista evidencia uma proposta de estágio ancorada em uma prática reflexiva e orientada proporcionando uma maior interação entre universidade e escola.

O estágio para quem não exerce o magistério e a oportunidade de iniciações na profissão docente, sendo relevante ao estagiário compreender o processo do estágio e a prática pedagógica. Destaca-se um leque de aprendizagens que vão sendo construídas no contato com a escola, dentre essas; o contexto e diagnóstico escolar, o projeto político-pedagógico, a dinâmica dos saberes e da investigação, a gestão escolar, a vivência da sala de aula, a organização do processo de ensino aprendizagem, e a relação entre teoria e prática. Enfatiza-se que estas e outras questões escolares necessitam de analises e interpretações do estagiário enriquecendo seu processo formativo e identidade profissional.

Um pouco de mim...

Sem dúvidas o ser humano é a interação do biológico com o meio cultural e social, nesta perspectiva acredito que expresso nas minhas atitudes, nos meus valores e ideais, um pouco de todas as pessoas que já passaram na minha vida e das que fazem parte dela. Até por ser filha única, criada apenas por mãe e avó, diferente de muitas crianças sempre fui cercada de primos, amigos, colegas e cada um desses colaboraram de forma direta ou indireta para a minha formação. Mesmo com pouca idade (23 anos) vislumbro uma vida de possibilidades e concretizações.

Estudante de Pedagogia, a faculdade modificou minha visão de mundo e do ser humano. Aprendi nesses quatro anos de vida acadêmica que toda experiência é fonte de aprendizado e troca de saberes, aprendi a relevância da colaboração, participação e motivação no desenvolvimento humano. Nesta caminhada destaco também a importância do outro acreditar e impulsionar você, nesse mundo que permeia o ideário da competitividade foi precioso e gratificante o apoio de inúmeros professores que acreditaram e incentivaram não só em mim como em tantos outros colegas. Estes fatos foram cruciais para meu envolvimento e permanência no curso. Confesso que passei por um momento de incerteza e desilusão, mas valeu a pena.

Meu percurso na Educação Básica

Como o fundamento principal deste memorial é relatar a construção da nossa identidade profissional e da nossa itinerância pedagógica, começarei relatando e refletindo o meu percurso na educação básica. Bom, pra mim escola e família sempre estiveram associadas, até porque minha avó era professora e em casa as discussões sempre envolviam a educação. Entrei na escola com três anos e por volta dos quatros iniciei meu processo de alfabetização em casa com minha avó nas horas de folga. Quando cheguei à alfabetização já escrevia e lia, me recordo que muitas vezes achava as aulas e atividades chatas, repetidas. Oh meu Deus! Era uma cartilha com aquelas atividades de soletração e com as chamadas famílias (ex. família do B – ba, be, bi, bo e bu) em que a professora ainda tomava a argüição.

A escola era super legal, colorida, divertida e os professores dedicados. Da 1ª a 4ª serie eu trago as maiores lembranças da minha infância, as mais lindas e saudosas...os amigos que fiz e que estão comigo até hoje, as festas de São João, folclore e natal e as aulas ministradas pelas professoras. Da 5ª a 8ª já me recordo dos temidos dias de provas, dos inúmeros conteúdos que estudávamos ou até mesmo decorávamos. A concepção de avaliação era bem diferente dos dias atuais, o aprendizado do aluno era atribuído de acordo com a nota que ele tirava, se perdesse nas quatro unidades poderia ser aprovado no Conselho de Classe que acontecia no final do ano. Com a contribuição de diversos estudiosos hoje já vemos um grande avanço neste sentido, a concepção de avaliação enfatiza o processo gradativo de aprendizagem do sujeito, seus avanços, suas dificuldades. Até o Conselho de Classe em muitas escolas ocorrem no final de cada unidade, buscando identificar os sucessos e insucessos dos alunos nas disciplinas.

Quando entrei no Ensino Médio mudei de escola e esse novo ambiente foi de rica experiência para mim. Sempre que estou fazendo algum trabalho, analisando alguma situação eu relaciono com a minha vivência no Ensino Médio. Estudei no Colégio Luiz Eduardo Magalhães e proposta pedagógica deles era diferente, os professores recém formados e até mesmo o que já tinham vasta experiência trabalhavam os conteúdos de suas disciplinas de maneira contextualizada, com aulas dinâmicas e bem humoradas, os projetos de inglês e literatura movimentavam a escola sem contar nos jogos internos. Os temas que estavam em foco na mídia e no mundo eram discutidos e debatidos, outro aspecto trabalhado que acredito ser muito interessante era o vestibular. Os filmes solicitados para o vestibular da UESB eram exibidos e comentados, sem contar nas avaliações que traziam questões dos principais vestibulares do país. Essa possibilidade de vislumbrar uma universidade pública foi primordial para assim como eu muitos colegas tentarem o vestibular.

Vivendo a Universidade...

"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão".

                                                                                        Paulo Freire

Enfim, cheguei à universidade e descobrir a complexidade da vida acadêmica. Nesses anos foram muitos os desafios, a difícil relação com os colegas de sala, a prepotência de alguns professores, as más condições na estrutura da sala de aula, entre outros fatos. Entretanto, os momentos positivos prevaleceram. A troca de aprendizagens com os professores (claro que alguns são mais preferidos que outros) e com os colegas enriqueceram em muito essa minha jornada. Os eventos, congressos, seminários que participamos colaboram em muito para nosso processo de formação não só profissional como humana.

Alguns momentos foram difíceis para mim, nos primiro semestre não me identificava com o curso e pensei em desistir dele. Uma nova maneira de ver o curso começou a surgir no V Semestre, as aulas eram mais dinâmicas, contextualizada com a prática escolar e as visões passaram a serem mais críticas e reflexivas. No VI semestre me interessei pelo Programa de Monitoria da UESB e passei para ser monitora da discipina Educação de Jovens e Adultos sob a orientação da Professora Maria de Cássia Passos Brandão.

Mesmo já tendo cursado a disciplina essa nova perspectiva de trabalho me proporcionou um crescimento significativo tanto como aluna do curso de Pedagogia como profissional da educação. Os estudos e abordagens desenvolvidos em torno das questões políticas e econômicas que circundam esta modalidade de educação possibilitaram o acesso a um amplo campo de conhecimentos, trazendo respostas práticas a inúmeras indagações na condição se educadora. A vivência como monitora  e a experiência junto a professora e os alunos me possibilitou pensar a educação como processo de aprendizagem contínua se efetivando na relação com o outro.

E entre todas as experiências que vivenciei e vivencio na UESB destaco dois como fundamentais nesse processo de aprendizagem; o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) e o GEPGE (Grupo de Estudos sobre Política e Gestão Educacional). Aquela pedagogia ilusória, utópica foi repensada no momento que adentrei o espaço escolar. Com o desenvolvimento da pesquisa etnográfica eu e todos os colegas envolvidos nesses projetos pudemos entender a realidade da escola. E hoje, buscamos compreender as transformações sociais, culturais, econômicas e políticas que permeiam a escola.

Discutimos e debatemos os problemas e desafios encontrados no dia a dia das escolas parceiras dos projetos e trabalhamos com oficinas sócioeducativas envolvendo a comunidade escolar. Os resultados são analisados nos nossos trabalhos e apresentados sempre em eventos acadêmicos. Professores como Bira Lima, Cássia Brandão, Daniele Freire e Marilete Calegari nos ajudaram em muitos dos trabalhos apresentados em eventos regionais, nacionais e internacionais.

Essa oportunidade de ultrapassar os limites da sala de aula e almejar uma ação docente mais efetiva e participativa, preconizando o entendimento de um contexto que pode e precisa ser repensado e modificado, me faz acreditar na educação, na transformação critica que está possibilita ao sujeito e na modificação desse sentimento de desvalorização do professor e nas precárias condições de trabalho que permeiam os diversos níveis de ensino do país.