Vivenciando de perto o cotidiano escolar, especificamente, a sala de aula, hoje paro para refletir a formação de nossas crianças. Esse momento de estágio em uma turma com crianças de 6 (seis) anos me despertou uma enorme angústia no que tange a escola e a família no processo de desenvolvimento humano e educacional dos alunos.
Sem dúvida, o que mais me chocou nesse momento de estágio foi perceber a grande omissão da família quanto a educação de seus filhos, netos e sobrinhos. Amparados por políticas públicas educacionais que flexibilizaram as normas e regras existentes nas escolas os alunos apresentam comportamentos já mais pensados na infância.
Murros, tapas, beliscões e arranhões são o dialogo dos meus alunos de alfabetização, que se agridem na sala sem nenhuma explicação ou motivo, sem falar na indisciplina que é outro grande obstáculo para o desenvolvimento da prática pedagógica. Diante dessa situação é difícil pensar um plano de aula que atenda as necessidades de um projeto que evidencia atitudes de valores e o processo de alfabetização.
Hoje, mais do que nunca percebo as lacunas do meu processo de formação e as contradições dos discursos de muitos professores com a realidade de uma escola pública. Os problemas encontrados no ambiente escolar são bastante amplos, não visando apenas às dificuldades do processo de aprendizagem de conteúdos por partes dos alunos, eles evidenciam o jogo de empurra entre família e escola sobre a responsabilidade da formação humana e social dos indivíduos. A frase do “bateu levou” se perpetua nas falas dos pais e alunos resultando num ambiente hostil e sem gestos de carinho ou solidariedade.
Confesso que foi difícil compreender o comportamento de muitos pais e/ou responsáveis acerca da educação familiar de seus filhos. Digo isso, até por conta da minha própria educação tida durante a infância e que era de responsabilidade da minha família, a escola era um espaço educativo para mim, entretanto, os valores que aprendi e que hoje expresso nas minhas atitudes foram me dados dentro de casa.
Dentro do contexto escolar vemos a necessidade de se repensar à formação humana, de trabalhar cada vez mais valores tão simples como respeito, amor, carinho, solidariedade e honestidade. Um dos temas que mais me chamam atenção e fazem parte dos meus estudos na universidade é a democratização da escola e a participação da família na instituição, depois de ter vivenciado o dia a dia da escola, vejo muito mais clara a relevância e necessidade da família e escola firmarem parcerias e assumam responsabilidades mutuas no que tange a educação de seus filhos. A participação da família na escola não deve se limitar apenas aos processos burocráticos da mesma, mas sim, deve abranger de forma ampla o desenvolvimento do cidadão, cônscio do seu papel social.
O replanejamento das aulas foi atividades cotidianas do estágio, sempre tentávamos modificar as lições e informações procurando criar um ambiente lúdico e agradável para a aprendizagem. A pesquisa acerca de metodologias de trabalho também ocorreu em paralelo ao nosso estágio, esta foi imprescindível para nos apoiarmos em teorias, métodos e pressupostos já existentes, afim de, adequá-los a realidade da nossa sala de aula. Assim, nas últimas semanas já percebemos algumas mudanças significativas no desenvolvimento do nosso trabalho e, consequentemente, um avanço na aprendizagem dos alunos.
Atividades lúdicas que envolviam a construção de cartazes, desenhos, pinturas ou mesmo o preparo de brigadeiro foram relevantes para que os alunos participassem ativamente do trabalho realizado em sala de aula. Percebo que tudo que foge a rotina da sala de aula eles gostam e se identificam, entretanto, é preciso saber impor as condições para a realização de certas atividades ou mesmo brincadeiras. Acredito que um dos grandes desafios do professor é procurar desenvolver aulas cada vez mais dinâmicas buscando interagir cada vez mais com o cotidiano dos alunos, criando situações que motivem os estudantes a aprenderem de maneira lúdica, participativa e significativa.
Nesse período de estágio a caminhada foi difícil, mas, no final gratificante. A cada momento precisei romper paradigmas e concepções acerca do processo de formação humana e do desenvolvimento infantil para buscar compreender e analisar criticamente a situação que estava envolvida. Sem dúvidas, a experiência pessoal superou a profissional e me fez uma pessoa melhor em muitos aspectos. A escola é o retrato da sociedade, dessa ideologia de um sistema cruel e perverso que “furta” a inocência e infância de milhares de crianças que desde novas convivem em um ambiente sem valores morais, éticos e sem oportunidades na vida, e é nesse sentido que a escola deve se mobilizar em projetos que busquem integrar a família a escola para juntas desenvolverem um trabalho educativo no sentido de educar com valores, possibilitando as crianças e jovens uma visão otimista da escola e da educação como pressupostos de uma mudança e transformação não só social, mas, cultural e política, que elas se encantem pela ambiente escolar e que este modifique de alguma forma suas vidas.
Os desafios desse período foram muitos, a vontade de desistir “bateu” várias vezes, mas, o aprendizado superou qualquer obstáculo que surgiu no caminho. Hoje, com mais clareza entendo melhor todo o processo educacional e sua complexidade, toda minha reflexão é contextualizada com base numa realidade vivenciada por mim na constituição da minha formação docente e mesmo diante dos empecilhos eu continuo a acreditar no poder de transformação da educação e do cenário educacional e social desse país.